A city in the clouds | Uma cidade nas nuvens

“As I opened my eyes I was instantly rinsed by reality and a soft ache that made me think twice before getting up. Through a crack between the curtains I could see the peak of a mountain, with snow sprinkled on top, like tomato sauce on pasta. I squinted to have a better look at it, wondering for a second where I was. Slowly my brain recalled what’d happened before this night of deep sleep and intense dreaming – the long bus journey, the overwhelming landscapes, the lively city arrival -. I then embraced body aches and confused mind, making a move to stand up and open the curtains. On the other side of the window were tall dull-green trees that moved gently with the wind, and a huge mountain range covering the entire background, only tamed by the deep blue sky above it. Such sight was enough inspiration to put my shoes on and go for a walk…

Leh is a surreal and special place. One can sense its long history dating back centuries – when it was a major settlement on the famous “Asian Silk Routes” – just by walking down the streets. The city is one of the coldest and most elevated inhabited regions in the world, that exhales cultural diversity through its historical roots and location between two of the highest mountain ranges on the planet – the Himalayas and the Karakoram – as well as politically delicate borders with Pakistan and China (Tibet). Buddhists, Muslims and a small portion of Hindus live together and in harmony, creating an ethnic rendezvous highlighted by a variety of skin colours and facial features that often make you wonder how it all came to be.
Dark skin and blue eyed figures (of Afghani heritage) walk side by side to Indian lineaments, Western tourists and Tibetan refugees…the outcome of constant and incredible migration. But their friendly and easy going smiles are all the same, making you realize we’re all made of flesh and bones.

This cold desert flushes an overly dry and dusty air, but due to its elevation and constant winds provides comfortable temperatures within villages’ walls, though not the same can be said when walking on valleys and hills. It’s a land of two merciless seasons: a scorching Summer and freezing Winter. Vestiges of such contrast are explicit both in people’s faces – burned cheeks and rough skin – and the landscape, which is scarred by incessant landslides, glacial rivers and strong winds.

The city is a maze of little box-like buildings set in an oasis of green fields, surrounded by barren terrain and daunting mountains. It’s a unique image that requires time and effort for the brain to process. Within its alleys one comes across “delivery men” pushing carts filled with boxes and water tanks, clothes dye shops, cows and donkeys, bike rentals, fruit and veg shops, monasteries, stone and clay buildings of traditional Buddhist architecture, and far too many barber shops. It becomes clear that Leh was once a commercial capital just by exchanging a word or two with local business men and sensing the “blood of trade” running through their veins. Not much seems to have changed in this aspect, and Leh remains a bustling and vibrant area amidst the vastness of an unforgiving environment of mountains and valleys.

All that could be sensed in just a days walk, after which I felt more tired the 2-day bus journey. But deep inside I could also feel inspiration blooming, and walking up to the palace on top of a hill that overlooks the entire Leh valley, I saw all those people, lights and sounds, and such view gave a more real touch to that moon-like landscape I had been mystified by for the past couple of days.”

PORTUGUES

 “Ao abrir meus olhos senti meu corpo ser banhado por realidade e uma dor suave que me fez pensar duas vezes antes de levantar. Por entre as cortinas eu podia ver o topo de uma montanha, com neve esfarelada por cima, como granulado em sorvete. Flexionei meus olhos pra enxergar melhor, tentando relembrar onde estava. Lentamente meu cérebro reconectou o que havia acontecido antes dessa noite de sono profundo e sonhos intensos – a longa viagem de ônibus, as paisagens alucinantes, a chegada ao caos da cidade -. Abracei então as dores no corpo e confusão na mente, levantando para abrir as cortinas. No outro lado da janela árvores magras de folhas verde-musgo se moviam gentilmente com o vento, e uma gigantesca cadeia de montanhas cobria o plano de fundo, somente domada pelo azul profundo do céu acima. Tal visão era inspiração suficiente pra colocar minha bota e sair a caminhar…

Leh é um lugar surreal e especial. É possivel sentir sua longa história de séculos – quando era um importante pólo na famosa ‘’rota da seda asiatica’’ – ao caminhar pelas ruas. A cidade é uma das regiões mais altas e frias a ser habitada no mundo, e exala diversidade cultural através de suas raízes históricas e localização entre duas das maiores cadeias de montanhas no planeta – os Himalaias e o Karakoram – bem como suas fronteiras politicamente delicadas com o Paquistão e China(Tibete). Budistas, Mulçumanos e uma pequena porção de Hindus vivem juntos e em harmonia, criando um ‘rendezvous’ étnico realçado pela variedade em cores de pele e traços faciais que te fazem imaginar como tudo veio a ser assim.
Figuras de pele escura e olhos azuis (de herança Afegã) caminham lado a lado com linhagens Indianas, turistas Ocidentais e refugiados do Tibete…o resultado de constantes e incríveis migrações. Mas seus sorrisos amigáveis e tranquilos são os mesmos, te fazendo perceber como somos todos feitos da mesma carne e osso.

Esse deserto frio descarrega um ar seco e empoeirado, mas graças a sua elevação e constante brisa providencia temperaturas comfortáveis entre as paredes dos vilarejos, ao que o mesmo não pode ser dito sobre a temperatura nos vales e montanhas. É uma terra de duas estações impiedosas: um verão escaldante e inverno congelante. Vestigios de tal contraste estão explicitos ambos nos rostos das pessoas – bochechas queimadas e pele deshidratada – e na paisagem, cicatrizada por incessantes deslizamentos, rios glaciais e ventos fortes.

A cidade é um labirinto de construções quadradas, firmado num oasis de campos verdes e rodeada por terrenos aridos e montanhas amedrontadoras. Uma imagem única que requer tempo e esforço para o cérebro processar. Entre os becos e ruelas é possivel esbarrar com ‘’entregadores’’ empurrando carros de madeira lotados de caixas e tanques de água, lojas de tingimento, vacas e burros, aluguel de motos, tendas de frutas e verduras, monastérios, construções de pedra e barro em arquitetura budista tradicional, e demasiados cabelereiros. Se torna claro que Leh uma vez foi um pólo de mercantilismo ao trocar algumas palavras com os comerciantes locais e sentir o ‘’sangue de pechincha’’ correndo em suas veias. Muito parece permanecer igual nesse aspecto e Leh continua uma movimentada e vibrante area entre a vastidão de um ambiente de montanhas e vales impiedosos.

Tudo isso pode ser sentido e apreciado em apenas um dia de caminhada, me fazendo sentir mais cansado que depois da longa jornada de ônibus. Mas no fundo também sentia inspiração florescer, e subindo ao palácio situado no topo de um monte com vista para o vale de Leh, via todas aquelas pessoas, luzes e sons e percebi algo mais real à paisagem lunar que me vinha mistificando nos últimos dias.’’

 

 

Leave a comment